06/11/2010

A volta por cima

Há exatos 10 anos, no ano de 2000, quando eu ainda só tinha 19 anos, eu passei por uma situação muito complicada de perigo, medo, trauma, dor e qualquer outro adjetivo esquisito que possa ter.

Uma sexta feira fria de junho, eu sai de casa por volta das 20:30h pra encontrar um gatinho num shopping perto de casa, dai entrei numa padaria pra comprar umas balinhas e quando sai, de cabeça baixa em direção ao ponto de ônibus quando fui abordada por um cara, que fazia sinal de que tinha uma arma embaixo da camisa.

Morrendo de medo, eu acompanhei o cara que logo me deu o braço e ordenou que eu fingisse ser sua namorada. Dai andamos uns 5 a 10 minutos que pareciam ser uma eternidade até ele chegar ao destino que ele queria; um local ermo e escuro para ele fazer o assalto.

Então encostamos num carro, ele me fez ficar colada nele e ir colocando meus pertences dentro do bolso do casaco dele e quando já não tinha mais nada eu colocar, eu pedi pra ir embora. Ele fez que não com a cabeça e disse que ainda não tinha terminado.

Ai, ele me deu o braço novamente e fomos andando até uma passagem de nível. Ali então ele começou a ordenar as ações mais terríveis da minha vida. Sem detalhes porque tô sem tempo mesmo: fui violentada, quase ao lado de casa, aos 19 anos, virgem e achando que naquele dia eu ia encontrar o homem da minha vida pra ser com ele a minha primeira vez. Ledo engano!

Depois de mais ou menos 40 minutos de horror, ele foi embora e ainda levou a minha calcinha de lembrança. Voltei pra casa suja de lama, atordoada, descabelada e sem rumo.

Enfim, ai minha mãe louca falou que a gente tinha que ir imediatamente fazer a denúncia e eu não tive medo, fui e fiz. Mais outros detalhes que outra hora eu conto. Quase um mês após a denuncia, fui convocada para fazer o reconhecimento de uma criatura que poderia ter sido o agressor.

Fui lá eu com a minha mãe pra delegacia especializada e confesso, fui muito MUITO bem atendida pela Polícia do RJ, desde o primeiro contato numa delegacia comum, exame de corpo delito, reconhecimento. Realmente a Polícia funciona quando quer e eu dei uma puta sorte.

Chegou o dia do reconhecimento, 5 homens de um lado da sala de manjamento (aquelas igual de filme mesmo que só vc vê mas o outro não consegue). Ele era o terceiro da fileira, vestia blusa branca com propaganda de carro e shorts verde. Jamais iria esquecer aquele rosto. Desabei a chorar. Chorei compulsivamente não só naquele dia como em pelo menos 3 dias depois. Entrei em pânico, deprimi, ia às aulas pq tinha que fazer, via aquele rosto em todos os cantos, escutava aquela voz em tudo e sentia o perfume dele em mim quase todos os dias.

Ele foi preso, julgado e condenado. Participei de uma audiência onde correu tudo bem pq mesmo depois de três anos passados eu repeti exatamente nas minhas condições tudo que havia acontecido. A sentença foi 10 anos pela violência sexual e 5 anos pelo assalto, que acabaram sendo reduzida a uma pena total de 9 anos e 7 meses, sabe-se lá porque.

Passados outros tantos anos, na faculdade comecei a estudar uma disciplina que falava do Sistema Penal, lá conheci uma pessoa que trabalhava com arte e cultura no sistema e me mostrando fotos, reconheci a criatura. Ai contei a pessoa sobre o que tinha acontecido e ela disse que sabia o porque da condenção dele e que ele estava arrependido. Na hora eu tive um ataque eu gritei: QUERO QUE ELE MORRA! Quero que a mãe, a mulher, as tias, as irmãs, as filhas, as sobrinhas, e todas as mulheres que ele gosta, se é que ele gosta de alguém, passem pelo que ele fez comigo. E desejo loucamente que ele morra na cadeia ou então mude de cidade, porque quando ele sair, vão caçá-lo feito bicho.

Depois do desabafo, que aconteceu no meio da aula, eu desmaiei e quando eu recobrei os sentidos estava com a professora e com 2 amigas (que já sabiam), ali elas me incentivaram a voltar pra terapia porque eu ainda não tinha superado, apenas vinha mascarando pra conseguir sobreviver.

E voltei!

Hoje, passados 10 anos e alguns meses, posso dizer que não lembro de detalhes, mas que tb não esqueço, só apenas uma lembrança ruim que eu transformei em força falando sobre, pondo pra fora. Fiquei aqui sem traumas graves, sem sequelas físicas, apenas com algumas neuroses que aos poucos vou me livrando delas, mas no geral posso me considerar super bem.

O assunto é meio que proibido na minha casa, até pq eu bem imagino que deva ser doloridissimo para minha mãe falar sobre isso, seria pra mim tb, eu sou mãe né! Meu marido sabe de tudo desde o ínicio e tb nunca falou nada a respeito, ele só diz que gostaria de nunca encontrar o agressor.

E vamos que vamos! Fazendo história e me aproveitando de toda a experiência mesmo que tenha sido ruim, para aprender e ver que nem sempre as coisas são do jeito que a gente imagina.

E rumo aos 30!



PS: O post não é pra causa dó nem pena ok leitores, é apenas uma história da minha vida, dos meus 30, a ídeia não é querer 30 segundos de fama, afinal já tenho quase 30 anos de fama né kkkk!

2 comentários:

Paulistana! disse...

Meu, você é uma vencedora! Desculpe o "jargão" mas é isso o que é!
Beijos

Anônimo disse...

Você é muito forte!!!! Tô admirada.