26/05/2010

Por que é que tem que ser assim?

Hoje saindo do trabalho lá pelas 19h, fui abordada por um garotinho que me disse a seguinte frase: Quero ir pra sua casa com você!

Claro que eu fiquei assustada, mas do alto dos seus 3 anos de idade (que depois ele me disse), acabou comigo... Do tamanho da minha filha, ou seja um bebezinho. Descalço, sem camisa, num frio chato que faz hoje aqui no RJ.

Perguntei pela mãe, ele respondeu, tá ali - fiquei 20 minutos andando de um lado pra outro com ele e nada de achar a mãe. Ai ele lançou: Tia, to com fome! Fiquei péssima em triplo; eu ia ao supermercado comprar laches pra minha filha levar pra escola e ai quando entramos, pedi a ele pra escolher o que queria comer, e ele simples pediu um iogurte "amarelo" e o biscoito ele não sabia qual, comprei um exatamente igual ao que a Maria Ísis receberia em casa.

Depois disso, ele pediu colo... Sim, eu dei colo, dei biscoito na boca, fiz carinho, abracei porque estava frio e rezei pra ninguém me ver porque eu queria muito levar ele pra casa. Pensei em ir na delegacia, depois pensei mais um pouco e achei que poderia me complicar, e com lágrimas nos olhos voltei à praça onde ele me abordou e falei pra ele: Olha, você não pode ir pra minha casa, precisamos achar sua mãe, ela deve estar com saudades de você. Ai ele responde: Mas eu quero ir pra sua casa brincar com a sua filha. EU falei: Mateus, não podemos.

Entrei num bar e encontrei um comerciante local que me disse que ele está sempre por ali, que a mãe é dependente química e sempre volta para busca-lo.

Tentei ligar pro conselho tutelar, mas às 20h não tinha ninguém; pedi o número do plantão, ninguém quis dar; como mãe, assistente social, mulher, humana, me senti um lixo.

Aliás, estou até agora me sentindo assim. Não quero julgar a mãe ou quem quer que seja, mas eu quis sim, trazer o Mateus pra minha casa, pra minha família, pra minha vida; porém em cinco minutos de muitas lágrimas, eu refleti: o que será que me reservaria no dia seguinte se eu tivesse feito isso?

Isso seria rapto de criança, eu poderia responder um processo, ou na pior da hipóteses, sofrer graves represálias, já que acredito piamente que o Mateus mora na comunidade local, onde tem um poderoso e muito bem armado tráfico de drogas.

Vim pra casa orando muito, pedindo a Deus que levasse logo a criatura que ele chamou de mãe ao encontro dele, e pedi ainda mais: Deus, se por acaso o Senhor colocar essa criança no meu caminho mais uma vez, ela vai ser minha a qualquer custo...

Sai dali vazia, triste e muito mal mesmo. Sei que fiz a coisa certa, porém muita gente de repente pense que eu fui fria, mas os anos de ensinamentos da universidade me deram a maturidade necessária para agir da forma que eu fiz.

Pedi ao cara do bar que olhasse ele; e ele disse que o faria com carinho e que era pra eu ficar tranquila, a mãe dele voltaria como faz todos os dias.

Dessa vez, foi no meu caminho que o Mateus cruzou. E amanhã? Quem será que vai cruzar com ele? Torço para que seja eu novamente.

5 comentários:

Cris Medeiros disse...

Noooossa! Que situação triste, eu fiquei emocionada aqui tb! Por que, meu Deus, essas coisas acontecem? Crianças não deveriam passar por isso!

Beijocas

Flávia Romanelli disse...

Nossa Vê, até chorei lendo isso, que triste! Que impotência né?

Bjo e fica bem pq vc fez o certo

Anônimo disse...

Pois é Vê..fui conselheira tutelar por alguns anos e várias crianças queriam vir pra minha casa... é complicado.. ainda mais qdo somos emotivas.. é nessas horas que podemos observar a injustiça que há no mundo.. bjs e que o tempo acalme seu coração

DESASSOSSEGADA disse...

Menina que situação complicada eu acho q faria o mesmo que vc afinal toda ação tem uma reação não seria a coisa mais certa a fazer levar ele pra casa. A mãe pode nao estar cuidando direito mas mesmo assim ele tem uma pode ser uma tranqueira mas nessas horas pode ter ctza q a lei estaria do lado dela.

Fico tão triste qdo vejo crianças assim...

Bjos

Unknown disse...

É a segunda vez que meu coração gela hoje com uma história contada por uma mãe. Histórias diferentes no conteúdo, mas igualmente emocionantes do ponto de vista maternal.

Uma vez passei por uma situação parecida. Fui fazer uma reportagem na casa de uma família que não tinha o que comer, e morava em um cômodo muito precário. Uma mulher com 7 filhos. O mais novo, Gustavo, era 3 meses mais novo que a minha menina, que na época tinha 1 ano e meio.

Ele tava sujo, só de cuequinha, e com muita fome. Enquanto a mãe fumava um cigarro atrás do outro, e nos mostrava a pobreza da família, ele foi até o galinheiro, se abaixou, e começou a comer o milho que era dado às galinhas.

Aquela cena acabou comigo! Chorei uma semana inteira e fiz uma campanha pra arrecadar alimentos pra família. Até materiais pra construção de um banheiro nós conseguimos.

Qdo voltei pra entregar as doações ele continuava lá. Desta vez, comia biscoitos, mas continuava sujo e semi-nu.

Falei com a mãe dele que queria levá-lo pra mim. Ela disse: "pode levar! Quando ele crescer você me devolve".

Mas isso eu não queria. Não sei se era egoísmo... mas eu queria ele só pra mim!

Por fim, decidi procurar outras formas de ajudar. Fui até o conselho tutelar, à Secretaria de Justiça Social, onde me prometeram uma atenção especial à família.

Já faz um ano que não tenho notícias deles... mas aquela cena do menino que dividia comida com duas galinhas, vira e mexe, me volta à mente...

(reproduzi seu texto e meu comentário no meu blog... espero que não se importe... http://tresmulheresemuma.blogspot.com)